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Sou o pior faixa branca de sempre. E é isso que vai tornar a viagem épica. (Entretanto ganhei a faixa azul, o que torna isto ainda mais inacreditável!)
Um destes dias, numa madrugada, apanhei um fantástico documentário da NBA TV sobre o Draft de 1984, considerado o melhor de todos os tempos. Naquele ano, entre outros, entraram na NBA Michael Jordan, Charles Barkley, Hakeem Olajuwon e John Stockton. Esteve para entrar outro jogador, mas acabou por não acontecer.
Esse jogador era o brasileiro Óscar Schmidt, considerado pelos norte-americanos o melhor basquetebolista do resto do Mundo. Schmidt tem hoje o recorde de mais pontos marcados (ultrapassou Kareem Abdul-Jabbar), mas recusou jogar na melhor liga do mundo. Por uma única razão. Até 1989, a NBA não permitia que os jogadores representassem as respetivas seleções (não foi á toa que os norte-americanos da NBA só foram aos Jogos Olímpicos em 1992) e Óscar Schmidt não aceitou. Nesse documentário, confessou que não existia maior alegria na vida do que ouvir o hino do Brasil e representar o país. Acabou por calar os norte-americanos ao levar o Brasil à conquista da medalha de ouro nuns Jogos Pan-Americanos. E todos viram o jogador que a NBA perdeu.
Vem isto a propósito da foto que está acima. Na foto está John Boye, o defesa do Gana que marcou o golo de Portugal, a beijar notas. O Gana ameaçou não comparecer à partida se não fossem pagos os prémios. Já tinha acontecido o mesmo com os Camarões. Do Gana partiu um avião cheio de dinheiro e cada jogador recebeu a parte respetiva. Ali, naquela foto, perdemos um pouco do espírito que devemos ter.
Não sou ingénuo ao ponto de pensar que os jogadores estão ali pela honra de representar os países. Até podem estar, mas o que os move é o dinheiro. A FIFA distribui balúrdios às federações presentes no Mundial. A ideia é desenvolver o futebol nesses países, mas ninguém sabe, realmente, onde é aplicado o dinheiro. Grande parte dele é para os jogadores. E isto destrói um pouco o que devia ser um Mundial. E deixa-nos a pensar quando vemos os jogadores da Seleção Nacional quase anestesiados a ouvir a Portuguesa.
Nisto do patriotismo, admiro a Argélia e o Uruguai. Ver os jogadores da Argélia a chorarem no relvado devido ao apuramento foi bonito. Vê-los a cantar o hino foi emocionante. Mas, para mim, os campeões da alma são os uruguaios. Um país com apenas três milhões de habitantes consegue estar sempre presente nestas competições. Correm como ninguém, lutam até ao último lance. Qualquer jogo com o Uruguai é uma batalha.
Enquanto existirem pessoas como Óscar Schmidt e seleções como o Uruguai, terei sempre esperança. E isso supera qualquer John Boye desta vida.
Está tudo doido. A sério, está tudo doido. A campanha da Seleção Nacional no Mundial tem sido uma desgraça. Mau de mais. Temos uma equipa completamente destruída de um ponto de vista físico, com jogadores fora de forma, que pouco ou nada jogaram nos seus clubes e que, mesmo assim, foram convocados. De fora ficaram atletas em melhores condições (Antunes, Adrien), outros por embirração (Quaresma e Danny) e outros por falta de comunicação (Tiago). Cinco lesões musculares em dois jogos, jogadores que se lesionam com 12 minutos de jogo, depois de uma época inteira no estaleiro (vejam o caso de Postiga) e está tudo bem. O selecionador diz que foi o médico que autorizou, o médico diz que o índice lesional (!) dos atletas já apontava para este cenário. Temos um jogador (Pepe) que é expulso por agressão na primeira jornada e diz que a culpa é do árbitro e dos jornalistas. Temos outro jogador (Ricardo Costa) que chega ao ponto de dizer que preferia que o adversário faltasse ao jogo. O selecionador diz que está tudo bem e que não se demite. No meio disto tudo, temos antigos jogadores que mais não fazem na FPF do que sorver dinheiro. A sério, o que fazem João Vieira Pinto e Pauleta na FPF? No meio disto tudo, a culpa é dos jornalistas. São culpados das lesões, das derrotas, da temperatura, dos penteados estúpidos depois de levarmos 4-0 no primeiro jogo, do capitão de equipa que diz que os colegas não jogam nada. Eu assumo: quero que o Gana ganhe amanhã. E quero que Portugal nem se apure para o Euro 2016, algo que será difícil. Se só assim as coisas mudarem, que seja.
A Seleção Nacional ainda tem hipóteses (remotas, mas existem) de se qualificar para os oitavos de final do Mundial. Ainda falta o jogo com o Gana e a FPF já sentiu necessidade de colocar o vice-presidente e o médico a prestar esclarecimentos.
Diz Humberto Coelho que todas as seleções europeias estão a sentir dificuldades. Todas, menos Alemanha, Holanda, França ou Bélgica.
Resumindo e concluindo: está tudo fodido.
Esta semana ficou marcada por um protesto dos jornalistas que acompanham a Seleção Nacional e que estão com Portugal em Campinas, no Brasil. A gota de água que motivou o protesto foi uma entrevista exclusiva do jogador Fábio Coentrão a Daniel Oliveira, autor do programa Alta Definição, conteúdo que até já anda a fazer escola em Portugal (vejam o Alta Fidelidade, de Carlos Dias da Silva, na Benfica TV). O caso merece alguma reflexão.
Queixam-se os jornalistas que existe um enorme distanciamento entre a comitiva e os repórteres. Para quem não está a par, a Federação Portuguesa de Futebol enviou dois assessores de imprensa para o Brasil. O Twitter é o meio preferencial para divulgar informação. De resto, tudo vai para o site (FPF), desde informações com maior ou menor relevância, aos habituais e indispensáveis boletins clínicos. Os jornalistas podem assistir, normalmente, aos primeiros 15 minutos do treino (onde normalmente não se vê nada, a não ser exercícios de aquecimento) e têm uma conferência de imprensa diária de um jogador designado pela FPF.
Neste Mundial, ao contrário do que não aconteceu noutras competições, a FPF não permitiu entrevistas individuais. As poucas que aconteceram surgiram antes do Campeonato do Mundo e promovidas pelas marcas que patrocinam os jogadores, como a Puma ou a Adidas.
Por um lado, os jornalistas têm razão. E compreendo-os. Eu próprio já trabalhei com a Seleção e não é fácil obter informação. Mais difícil ainda é conseguir um exclusivo. Alguns estão no Brasil, mas mais valia não estarem. Quem está em Lisboa chega mais rápido à informação do que quem está em Campinas. Depois não é fácil lidar com a incompetência dos assessores de imprensa da FPF. Cabe na cabeça de alguém ser o guarda-redes Beto a dar a notícia do castigo a Pepe? Incrível.
Por outro lado, o protesto foi parvo. No ano passado, um grupo de jornalistas deixou o auditório do Estádio José Alvalade porque estavam demasiadas horas à espera da apresentação de Salim Cissé, jogador que ia assinar pelo Sporting. Esse corporativismo foi tão estúpido que nem perceberam que a notícia estava ali. Na demora. Nenhum jogador pode ser apresentado sem que o anterior clube envie a carta de desvinculação. É parvo ver um grupo de jornalistas reclamar, quando tem acesso todos os dias ao treino (nem que seja por 15 minutos) e a um jogador todos os dias.
Tenho pena que ninguém tenha coragem de fazer o mesmo com o Benfica. Ao longo desta época, não houve zona mista. Nos jogos em casa, os jornalistas esperavam uma hora até que chegasse um assessor a avisar que ninguém falava. No final da época já nem Jorge Jesus falava. Treinos? Nem pensar. Até no estágio de pré-época só havia silêncio. Mas quando mete o Benfica todos piam fininho...
O verdadeiro problema
O problema aqui foi Daniel Oliveira. E aí percebo que tenham ficado chateados. O problema não é Daniel Oliveira, é a FPF. Eu não gosto dele. Não gosto da forma, detesto o conteúdo. O problema é que Daniel Oliveira chegou onde não deixaram os jornalistas chegar. Daniel Oliveira acompanha a seleção desde os tempos de Scolari. Ou melhor, desde que Jorge Mendes passou a dominar a Seleção Nacional.
Há uns anos, foi ele o escolhido para o programa Os Incríveis, uma série de entrevistas aos jogadores que iam representar Portugal no Euro 2008. Todos esses jogadores eram representados por Jorge Mendes e os direitos de imagem pertenciam à Polaris, uma empresa de marketing criada pela Gestifute, responsável pela gestão dos direitos de imagem dos atletas. Ou seja, todos esses jogadores foram pagos (e muito bem pagos) para mostrarem as casas, os carros, a família e o cão. Marco Caneira, jogador representado por Paulo Barbosa, recusou assinar pela Polaris. O próprio acha que ficou fora do Euro 2008 por esse facto.
A ponte foi criada aí. E a ligação continua. Não é de estranhar que a Polaris se sinta mais confortável em entregar Fábio Coentrão a Daniel Oliveira do que a um jornalista que lhe pergunte porque é que Portugal já vai na sétima lesão muscular desde que começou o estágio para o Mundial. É preferível saber o que dizem os olhos dele...
Portugal já perdeu há mais de 24 horas e o dia de hoje foi de rescaldo. Não só perdeu o jogo (e de forma contundente), como perdeu três jogadores, um deles para o resto do Mundial (Fábio Coentrão), e um defesa central por castigo (Pepe). É altura de tentar perceber o que correu mal. Culpado? Um: Paulo Bento.
Paulo Bento é como aquele chefe que todos nós temos na empresa onde trabalhamos. Não é particularmente competente, mas consegue sempre ser bem visto pela administração. No caso de Paulo Bento, é tão bem visto que até lhe renovaram o contrato até 2016. Paulo Bento, além de teimoso, é fraco. É incompetente. E é um yes man, sem qualquer espírito crítico. Faz o que lhe mandam, não levanta ondas e lá se safa sempre.
A queda do Sporting começou com Soares Franco e Paulo Bento. Em quatro anos como treinador, pôs uma equipa a jogar de forma cínica, sem paixão, e deixou as bancadas de Alvalade com menos de 20 mil espectadores por jogo. Até o Sporting de Godinho Lopes, o que acabou em quarto lugar com Sá Pinto, conseguia pôr mais pessoas. Todos os anos o orçamento descia, todos os anos o plantel era mais fraco, e todos os anos Paulo Bento admitia aquilo. Em vez de dar um murro na mesa e ser o treinador que o Sporting precisava, acabou em Alvalade a empatar com o Ventspils e a admitir que não tinha condições para lutar com o Benfica.
Na Seleção tem sido a mesma coisa. Paulo Bento só está no Campeonato do Mundo porque tem o melhor do Mundo com ele. Mas nem o melhor do Mundo o selecionador sabe utilizar da melhor forma. A convocatória para o Mundial é outro exemplo. Deixou de fora alguns dos melhores jogadores portugueses, como Tiago ou Danny, apenas por teimosia. Não convocou Quaresma, provavelmente, o único jogador no País com coragem de mandar Ronaldo à merda por não passar a bola a ninguém. Antunes não foi chamado e, no lugar deles, temos André Almeida, um médio razoável, mas um péssimo lateral. Azar dos azares, sem Fábio Coentrão, um dos piores jogadores em Portugal será titular pela Seleção Nacional num Campeonato do Mundo.
Antes do jogo da Alemanha, Paulo Bento esteve mais preocupado em mandar recados a um jornalista que fez o trabalho dele do que em enviar uma mensagem positiva. No jogo vimos uma equipa em péssimo estado. Jogadores sem qualquer tipo de autonomia, sem mais nada a fazer em campo do que passar a bola a Ronaldo. Vimos o melhor do Mundo a jogar demasiado longe da baliza. Vimos jogadores a discutirem, golos sofridos de forma infantil, jogadores numa condição física deplorável (João Moutinho) e um guarda-redes sem confiança. Guarda-redes esse que se lesionou com alguma gravidade (!)
A derrota por 0-4, frente a um dos candidatos ao título, foi mais do que natural. Paulo Bento voltou ao estilo habitual, a culpar os erros de arbitragem por mais uma demonstração da própria incompetência.
Portugal vai sair deste Mundial pela porta dos fundos. Duvido muito que passe aos oitavos de final. O que vai acontecer com o selecionador? Nada. É como o incompetente que está á nossa frente na empresa. Mais depressa saimos nós do que ele.
É a lei da vida.
O Mundial é para os parvos. Eu sou parvo, logo o Mundial é para mim. Ver um Mundial é assistirmos a um Japão-Costa do Marfim às 4 da manhã, depois de dez horas de trabalho...a ver o Mundial.
É a altura dos animais adivinhos, desde polvos, camelos e polvos. É a altura em que algumas pessoas resolvem fazer publicidade, seja lá ela qual for. Já aqui vos contei a história de Rocco Siffredi, o ator porno italiano que prometeu não ter orgasmos enquanto a Itália continuar em competição. Basicamente, foi a forma de ter alguma forma e dizer: «Já chega, não fodo mais.»
Mas há quem faça tudo ao contrário. Marlen Doll é chilena. E, como já se percebeu pelo nome, é atriz de filmes para adultos. Ora esta adepta do Chile fez uma promessa bem diferente da de Rocco Siffredi. Prometeu que, se o Chile vencesse a Austrália, teria sexo durante 12 horas seguidas. 12. E com quem calhasse. Mas isto de lidar com pessoas de palavra é logo outra coisa. O Chile ganhou por 3-1 e, no dia seguinte, Marlon Doll cumpriu a promessa. E usou as redes sociais para documentar a promessa. Tapou a cara dos homens, mas tudo o resto estava à mostra.
Eu nem quero acreditar se a moda pega.
A minha namorada e a minha mãe ficam malucas quando digo que sou da Holanda. Sou português, não sei falar holandês, mas sou da Holanda. Eu explico.
Quando era miúdo, Portugal raramente ia competições como esta. A Seleção esteve no Mundial 1986 e só voltou a uma grande competição no Euro 1996. Falhou o Mundial 1998 e só passou a estar regularmente nestas provas a partir do Euro 2000. Nestes hiatos, cada português escolhia um país e torcia por essa equipa. A maioria gostava do Brasil, outros da Itália, muitos da Argentina. Eu sempre gostei da Holanda.
Uma das minhas primeiras recordações futebolísticas foi a Holanda que venceu o Euro 88. Aquela camisola laranja, com um leão enorme deixava-me maluco. Era a equipa de Gullit, Rijkaard e Van Basten. De Koeman e Van Breukelen. Jogavam ao ataque como ninguém, o jogo deles assentava numa procura incessante pelo golo. Ninguém queria saber se sofressem um golo. Por cada golo que sofressem, marcavam mais dois.
Certa vez, um amigo meu holandês, antigo jogador e atual treinador, contou-me algo que explicava em que consistia o futebol holandês. «Uma vez, jogava no Sparta de Roterdão, quando joguei contra o PSV do Romário. Perdemos 6-1, mas fomos aplaudidos pelos adeptos», explicou-me. Esta ideia romântica de futebol continua a seduzir-me. O futebol total, de alargar o campo quando se ataca, de reduzir o campo quando se defende. Um respeito total pelos adeptos, com golos por todo o lado.
Ao longo dos anos, a Holanda foi mudando, já não joga desta forma destemida. Até por que o futebol mudou. Jogam de forma mais agressiva, mas continuam igualmente eficazes. E ver aquelas camisolas laranjas continua a levar-me para a infância.
É por isto que adoro a Holanda.
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