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Sou o pior faixa branca de sempre. E é isso que vai tornar a viagem épica. (Entretanto ganhei a faixa azul, o que torna isto ainda mais inacreditável!)
Os últimos treinos não têm sido fáceis. Quatro dias seguidos a treinar deixaram-me de rastos. Dói-me tudo. A faixa azul obriga-nos a dar ainda mais. Se conseguir um ano a treinar assim, vou evoluir muito. Mas está a doer. Nos últimos dias, temos insistido em guardas-aranhas, raspagens com ganchos e transições. Tenho-me safado bem, mas bloqueio nas lutas. Não consigo fazer metade do que sei.
A minha condição física condiciona-me todas as lutas. Tenho muita dificuldade contra gajos brutos e atléticos. É difícil pôr um ritmo baixo na luta, e acabo em más posições e quase sempre finalizado. Hoje foi assim, contra um tipo da Marinha, que mais parece um carro de assalto. Mas obriga-me a ser melhor.
Os meus colegas querem ir ao campeonato nacional. Acho prematuro. Preciso de chegar aos 94 quilos para isso. Estou a pensar federar-me, e tentar o Open em novembro. Pode ser uma das maiores vergonhas da minha vida, mas vou divertir-me no processo.
Não treino deste quinta-feira, e já começo a ficar doido. Só volto ao tatame na terça, só vou ter dois dias para treinar. O jiu-jitsu é das coisas mais viciantes que existem. Desde que recebi a faixa azul, que percebi que vou ter de dar ao pedal. E muito. Nesta altura, só penso numa coisa: guarda, guarda, guarda. A minha defesa é péssima. Passei tanto tempo em cima, que sou péssimo em baixo. Passam-me a guarda com facilidade.
Percebi que tenho de trabalhar a minha guarda. A aula da última quinta-feira foi útil. Gostei das palavras do Henrique Pereira. Não me vale de nada saber berimbolos e De la Rivas, se não sei fazer um armlock na montada. Quando estou em baixo, dou comigo a meter ganchos nos advesários, e a não saber que porra faço com eles. Vou ter de simplificar.
Adorei a raspagem que passaram e acho que a vou usar. Ficar em baixo, controlar as mangas, chutar a perna para longe e pôr o adversário de lado. Se seguida, usar a manga como alavanca e abraçar a perna. Controlar pano, seja faixa ou químono, e proteger o pescoço. Fazer logo a levantada técnica. Gostei mais de trocar as mãos e raspar a perna, do que tirar a perna direita e levantar a perna do adversário a agarrar no calcanhar dele. Acho a posição mais forte. Vou treiná-la até mais não. Preciso de duas, três posições na guarda a que possa confiar a vida. É nisso que vou pensar agora.
Perdoem-me o silêncio, mas os últimos dias têm sido intensos. O efeito surpresa foi-se todo, mas foi emocionante. Mal entrei na academia, estava a faixa e o diploma na receção. Já sabia que a ia receber. O treino correu mal, tinha feito análises horas antes e os rolamentos deixaram-me mesmo tonto
Mal terminou o treino, fui chamado pelo professor. O momento foi especial, pois tive 20 pessoas a aplaudirem-me. Quase chorei. Elogiaram a minha postura, a minha assiduidade, e a forma como, ao longo de um ano, não desisti. Treino após treino, a superar as dores e as limitações. Ter a faixa azul na minha cintura foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Um orgulho enorme. A exigência aumentou. O caminho da faixa azul para a roxa será longo e mesmo muito difícil. A maioria desiste. Eu não sou de desistir. Nem que demore dez anos.
Nota mental: nunca mais faltar à cerimónia de graduação.
Ver todas as fotografias foi um murro grande. Achei estranho ver tanta faixa azul na portaria. Basicamente, todos os que entraram comigo e treinam-se comigo receberam a faixa azul. Nunca pensei.
Das duas, uma. Ou vou receber a faixa azul na próxima semana, ou vou ter de andar mais um ano a correr atrás deles. Se isso acontecer, não sei se vou aguentar. Tenho medo de me ir abaixo psicologicamente. Ou de os matar quando lutar com eles.
Raspagens, idas para as costas, lutas e mais lutas. Foi um belo dia para levar na boca dos faixas roxas. São os piores. O branco tem medo, o azul respeito. O castanho quer divertir-se, o preto ensinar. O faixa roxa só quer dar porrada. Usa os faixas brancas para fazer o que sabe melhor, sempre com a certeza que não terá grande resistência. Fica com o ego nos píncaros para se atirar aos mais graduados. No meio disto tudo, abriu-me o lábio (não teve culpa) e sujei o químono. Sexta há cerimónia. Vamos ver o que me calha.
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