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Sou o pior faixa branca de sempre. E é isso que vai tornar a viagem épica. (Entretanto ganhei a faixa azul, o que torna isto ainda mais inacreditável!)
O futebol português está ao rubro. A ida de Jesus para o Sporting deixou Luís Filipe Vieira irado. Na Luz, a próxima época seria de contenção e aposta na formação. Mas as ondas de choque da ida de Jesus para Alvalade são tão grandes...que Vieira está disposto a tudo para contrariar o antigo treinador. Quer isto dizer que o Benfica vai apostar forte no mercado, nem que para isso tenha de aumentar passivo.
As ondas de choque também chegaram ao Restelo. Jorge Jesus convidou José Luís, diretor do Belenenses, para o acompanhar até Alvalade. Ia ganhar mais do que o dobro. Os dois trabalharam no Estrela da Amadora, e Jesus sempre o quis com ele. Mas Vieira não achou piada. E aconselhou José Luís a não acompanhar Jesus para o Sporting. Até Jorge Mendes ligou ao diretor do Belenenses a rasgar JJ. Do outro lado, Jesus insistiu para assinar pelo Sporting. A prudência falou mais alto e resolveu ficar no Belenenses.
Sabem uma coisa? Isto ainda agora começou.
A ida de Jorge Jesus para o Sporting é a maior bomba no defeso desde 1993, quando Sousa Cintra aproveitou os problemas financeiros do Benfica e contratou Paulo Sousa e Pacheco. Esteve próximo de adquirir João Pinto, mas Jorge de Brito segurou-o. João Pinto acabou por ir para Alvalade, em 2000, numa transferência quase inevitável.
Esta jogada de Bruno de Carvalho deixou os adeptos do Benfica num estado de fúria e incredulidade que nunca vi. A maioria sempre temeu que JJ fosse para o FC Porto. Nunca ninguém temeu o Sporting. Bruno de Carvalho tem uma atitude que não se via em Alvalade desde João Rocha e Sousa Cintra. Uma mistura entre arrojo e irresponsabilidade. Para Bruno de Carvalho não há impossíveis. Veremos o que acontece no futuro.
Mas a ida de Jorge Jesus para o Sporting e consequente saída do Benfica levantam várias questões. Aqui ficam algumas que acho pertinentes.
A saída
A relação entre Vieira e Jesus estava longe de ser perfeita. E não era de agora. JJ gosta de ter o controlo de tudo, e sentiu que já não o tinha. A contratação de Mukhtar, em janeiro, e de Marçal, Ederson, Diego e Hassan, para a próxima época, não tiveram a sua autorização. JJ não gostou de ver o processo da renovação de Maxi Pereira a arrastar-se. Mais recentemente, não ficou contente quando soube do pré-acordo com Rui Vitória.
O treinador do V.Guimarães há muito sabia que seria o substituto de Jesus, ao ponto de ser indemnizado se Jesus ficasse. Vieira sempre pensou que JJ sairia para o estrangeiro, mas os convites que surgiram não lhe agradaram. Ao longo deste último mês, Jesus sabia do interesse do Sporting, e nunca o rejeitou. Informou-se sobre o plantel leonino e foi recolhendo informação. Mas a prioridade era o Benfica. Mas cedo Jesus percebeu que Vieira já não o desejava. As reuniões entre ambos não chegaram a qualquer acordo, e Jesus ficou ainda mais magoado quando o Benfica e Jorge Mendes, à pressa, lhe arranjaram um clube em França. Jesus recusou. Estava consumada a saída do Benfica.
Porquê o Sporting?
Acredito que a parte emocional foi importante. Jesus não quis sair de Lisboa devido ao debilitado estado de saúde do pai. Todos conhecem o passado ligado ao Sporting e, pelo que sei, as pessoas mais próximas do treinador encorajaram-no a ir para Alvalade. Mas não vamos ser ingénuos. O contrato milionário também ajudou.
O projeto do Sporting
Mais do que roubar o treinador ao rival, contratar JJ significa que o Sporting quer ganhar tudo. Mas pagar seis milhões de euros por ano é loucura. O dinheiro vem de investidores de Angola e Guiné Equatorial. Mas ninguém dá assim tanto dinheiro a fundo perdido. Quais são as contrapartidas?
Contratar JJ significa que o Sporting tem de aumentar o orçamento. Jesus não aceitaria os leões sem garantias de ter uma equipa competitiva para lutar por títulos. Acredito que nenhum dos principais jogadores sairá. Aposto que as contratações serão sonantes. Logo, não consigo perceber o que raio vai na cabeça de Bruno de Carvalho. Quando chegou ao Sporting, conseguiu a reestruturação financeira e poupou onde pôde. Impôs tectos salariais e um orçamento para o futebol a rondar os 25 milhões de euros, menos de metade dos rivais. Tem a UEFA à perna com o fair-play financeiro, e decide passar a gastar o que não tem? Veremos o que será o futuro do Sporting e o preço a pagar por esta operação. Com mais três anos de contrato, Marco Silva era perfeito para a estratégia atual do Sporting.
A queda da formação
A contratação de JJ significa a queda da formação. Só pode. Mais do que um projecto, a aposta do Sporting na formação era uma filosofia. Mas isso nunca deu campeonatos ao Sporting. Deu aos rivais…Na verdade, a formação do Sporting atravessa uma crise. Abaixo da equipa principal, só vejo quatro jogadores com capacidade de chegar à primeira equipa: Iuri Medeiros, Gelson Martins, Wallyson e Matheus Pereira. JJ é o treinador perfeito para espremer os jogadores. Estou curioso para ver o que conseguirá de William Carvalho, Carrillo ou João Mário. E isso é algo que Marco Silva ainda não tem. E não me parece que alguma vez venha a ter.
Esta coisa de receber uma equipa de futebol na Câmara Municipal serve mesmo para quê? Não basta já fechar a maior avenida de Lisboa para festejar um título de futebol? Se eu ganhar amanhã um torneio de sueca, e for de Lisboa, também posso ser recebido na autarquia?
As fotos aqui exibidas foram tiradas em Guimarães. Mostram o estado em que ficou o armazém do V. Guimarães, depois de ter sido assaltado por adeptos do Benfica. Levaram vestuário, calçado e até trolleys, como mostram as imagens. As bolas que se veem no vídeo são oficiais de competição, custam 150 euros cada, e pertenciam ao clube. Só ficaram as canecas. Logo no local, deu para perceber que existiam várias pistas. No meio da confusão, houve quem tivesse deixado os óculos no chão, por exemplo.
Ao ver o armazém e o estado em que ficou o bar e as casas de banho, jamais pensaria que o assalto tivesse sido assim. Mas o vídeo divulgado pelo Jornal de Notícias ver aqui
mostra algo que nunca pensei. Afinal, não foram as claques que pilharam o armazém do clube. Foram pessoas normais, bem vestidas, que nem se devem ter apercebido que aquilo era crime.
Toda a gente elogiou Luís Filipe Vieira pelo comunicado de ontem, ao demarcar-se da violência na noite do Marquês. O apoio ainda foi maior, depois de conhecida a intenção do Benfica em convidar para a festa do título o pai e as duas crianças agredidas em Guimarães. Mas, quem sabe se nas bancadas da Luz não estarão algumas destas pessoas, que fizeram este triste espetáculo. Esperava-se uma reação enérgica por parte da Direção do Benfica a condenar estes acontecimentos. Mas ainda ninguém falou sobre o assalto. É óbvio que Vieira é o menos culpado por isto, mas isto não pode passar impune. Isto envergonha os verdadeiros benfiquistas. Não se pode confundir a parte com o todo. Mas uma coisa é certa. Dois dias depois, já ninguém fala do campeonato do Benfica. Mas fala-se do que alguns adeptos das águias fizeram. E os verdadeiros benfiquistas não mereciam isto.
Vou ser direto. Sou contra isto do Marquês. E aqui não há clubes. Não percebo como se pode, a um domingo à noite, fechar a principal praça de Lisboa para se festejar um campeonato. Milhares de pessoas, ruas sujas, monumentos vandalizados e uma confusão enorme. Tudo por causa de futebol. Não existem estádios para isso? Adiante.
O Benfica fez o que quis da praça e, admita-se, parecia um bom trabalho. A estrutura à volta da estátua protegia o monumento, evitando os problemas do ano passado. O que se viu nas horas seguintes anula toda a festa que estava montada. Adeptos em confronto uns com os outros, a atirarem garrafas e o que encontravam. Daí aos problemas com a policia foi um passo. A festa que devia terminar às quatro da manhã foi encerrada à uma por ordem policial. Vi nas imagens crianças ainda acordadas àquela hora, a festejarem o título. Enfim.
Não estive em Lisboa, estive em Guimarães. E o que vi em Guimarães faz-me ter nojo disto e dá-me razão para me distanciar do que gravita no futebol. Vi um café destruído em confrontos entre adeptos do Benfica e do Vitória, depois de centenas de benfiquistas sem bilhete ali chegarem só para arranjarem problemas. E se houve alguém que saiu mal visto de Guimarães foi a polícia. Fiquei chocado quando vi o que aconteceu ao estádio do Vitória. Casas de banho queimadas, um bar destruído, um armazém assaltado e um cheiro a queimado que vocês não imaginam. Onde andava a polícia? Ninguém sabe.
Cá fora, um elemento da PSP batia de forma inacreditável num homem que só estava a defender os filhos. E nem os gritos das crianças o fizeram baixar o bastão. A única coisa no meio disto foi estar por lá a CMTV e gravar tudo. Já estou como diz um colega meu. Isto já acontece há muito tempo, mas ninguém filmava. Valha-nos isso.
Se Julen Lopetegui não fosse espanhol, seria levado a sério? Eu acho que sim. O "basco", como diz João Gabriel, não disse mentira alguma. Jorge Jesus não tem qualquer tipo de categoria, é boçal e goza de um manto protetor. Não fosse ser treinador do Benfica e queria ver onde estava. A forma como se comporta no banco de suplentes é disso exemplo. Não respeita os árbitros, a área delimitada e é malcriado para a própria estrutura. Quantos aos erros de arbitragem...estamos conversados.
Acabou a jornada 22 e tenho uma certeza: o Benfica vai ser campeão. O jogo de Moreira de Cónegos foi o exemplo daquilo que tem sido a época encarnada. Uma exibição sofrível, erros de arbitragem e os três pontos. No Minho, estavam manietados pelo Moreirense e sofreram o golo de João Pedro. Na segunda parte, com o jogo complicado, surge o empate na sequência de um canto inexistente e depois um jogador é expulso por insultar o árbitro.
Na próxima jornada, recebem o Estoril, clube que jogará sem a habitual dupla de centrais. Yohan Tavares e Ruben Fernandes estavam em risco de exclusão e, claro está, viram amarelo. É mais uma. Esta época, o Benfica já acabou OITO jogos na Liga com mais um jogador em campo. E convém não esquecer alguns golos em fora de jogo, como o de Gaitán ao Gil Vicente. Pelo meio, Deyverson e Miguel Rosa foram impedidos de jogar na Luz…e nenhum tem ligações ao Benfica.
A falta de vergonha é enorme. A equipa do Benfica é normal, a julgar com épocas anteriores. Souberam aproveitar os erros de FC Porto e Sporting, mas a verdade é que, nos momentos de aperto, houve sempre uma mão salvadora.
O domínio do Benfica, esta época, faz lembrar o FC Porto dos anos 90, os anos de ouro da corrupção desportiva, dos quinhentinhos de José Guímaro à viagem dos irmãos Calheiros ao Brasil, paga por engano (disseram eles) pelos dragões. Naqueles anos, nada fugia ao FC Porto. As arbitragens eram subtis, mas não enganavam. Jogadores como João Pinto, André, Fernando Couto e Paulinho Santos podiam agredir quem quisessem que não iam expulsos. Qualquer jogo mais complicado acabava com um penalty nos últimos dez minutos e depois existiam as pequenas coisas. O Salgueiros de Mário Reis era temível contra Benfica e Sporting, mas perdia metade da equipa de forma inexplicável antes de jogar nas Antas. Jorge Silva levou tantos golos de Jardel que, um dia, viu-se a jogar pelo FC Porto emprestado pelo Salgueiros. E foi campeão! Em 93/94, o Sporting perdeu pontos fora com Famalicão e Gil Vicente, em estádios com relvados impraticáveis, cheios de lama. O FC Porto, por exemplo, jogou com o Famalicão no mesmo estádio, mas o relvado estava coberto de areia. Ganharam 5-0…
O Benfica tem sido um pouco disto. É natural. É mais complicado ser campeão com Eliseu, André Almeida e Jardel do que com Siqueira, Garay, Enzo Pérez e Matic. Jorge é Jesus, mas não faz assim tantos milagres. Junta-se a isto uma comunicação social parcial e clubista e é como se nada se passasse.
Esta semana, Bruno de Carvalho denunciou um pedido de reunião com Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, intermediada por Nélio Lucas, responsável da Doyen Sports. Alegadamente, Vieira queria propor uma aliança para dominarem o futebol portugues e dividirem titulos. Bruno de Carvalho diz que recusou. O presidente do Sporting fala de mais. E já ninguém o leva a sério. Mas ninguém investiga esta denúncia. E o jornal Record já provou que existem mensagens que deixam indícios no ar.
A julgar pelo que vejo todas as jornadas, Bruno de Carvalho pode estar a falar verdade. Não me admirava nada.
Não deixa de ser curioso que, em ano de eleições, se ultrapassem todas as burocracias no mais pequeno espaço de tempo. A trasladação dos restos mortais da poetisa Sophia de Mello Breyner para o Panteão Nacional foi um processo moroso. Ora, com Eusébio, é tudo em poucos meses. Foi hoje decidido por unanimidade na Assembleia da República e tudo ficará resolvido até ao verão, antes das eleições.
Não deixa de ser curioso.
Retrato de um pais cada vez mais inacreditável. Esta é a maior instituição portuguesa, o maior partido em Portugal. Esta notícia da Lusa justifica tudo
A Câmara Municipal de Lisboa aprovou quarta-feira a isenção do pagamento de taxas urbanísticas de cerca de 1,8 milhões de euros por intervenções a realizar junto ao Estádio da Luz, o que gerou críticas da oposição. A proposta, que prevê a isenção em obras de ampliação a realizar no lote 14 da Avenida General Norton de Matos, por parte da Benfica Estádio-Construção e Gestão de Estádios, SA, foi aprovada com os votos contra da oposição no executivo municipal (de maioria socialista) - PSD, CDS-PP e PCP - e de uma vereadora do movimento Cidadãos por Lisboa (eleita nas listas do PS).
Recuso-me a votar em António Costa.
Agora que já passaram alguns dias depois do derby, e conhecido o corte de relações institucionais entre Sporting e Benfica, apetece-me falar sobre isto. Eu estive em Alvalade no domingo e o que vi? Ódio. Vi ódio, senti ódio. E foi de parte a parte, aqui não há culpados e vítimas. É tudo farinha do mesmo saco.
Vi um adepto do Benfica ser escoltado pela polícia só porque foi a uma roulotte de comida onde estavam sportinguistas. E nem o facto do pai estar ao lado (com um cachecol do Sporting) o impediu de ser quase linchado. Vi a claque do Benfica arremessar cadeiras para a zona onde estavam os adeptos do Sporting, onde estavam crianças! Vi material pirotécnico, vi um verylight lançado pela claque do Benfica para essa mesma zona. É a velha história. Um iogurte não pode entrar, mas os petardos entram todos.
Um dia antes, vi uma tarja criminosa e assassina exibida pela claque do Benfica, a lembrar de forma orgulhosa que tinham morto um adepto do Sporting na final da Taça de Portugal, em 1996. Na bancada estava o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que nada fez. É inacreditável que a direção do Benfica não tenha condenado aquela faixa. O presidente encarnado passa sempre entre os pingos da chuva, enquanto Bruno de Carvalho é apelidado de fanático e índio. É muito fácil bater no presidente leonino.
Com a confusão instalada, o que se passou no domingo era inevitável. Em vez de cortarem relações, Sporting e Benfica deviam, de uma vez por todas, acabar com isto. Acabar com o poder das claques, fações de adeptos (algumas delas com ligações criminosas) que mandam nos clubes e que instigam tudo isto. Mas não me parece existir interesse de ambos. Em 1996, morreu uma pessoa num estádio a ver uma final da Taça de Portugal. Teve o azar de estar no lugar errado, à hora errada. O que aprendemos com isso? Nada. A continuar assim, vão morrer mais pessoas nos estádios. E vamos continuar a assobiar para o lado.
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