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Sou o pior faixa branca de sempre. E é isso que vai tornar a viagem épica. (Entretanto ganhei a faixa azul, o que torna isto ainda mais inacreditável!)
Sou sportinguista desde sempre, sócio há 13 anos, e nunca me senti tão envergonhado como hoje. Nem quando perdemos com FC Porto ou Benfica, ou levámos na boca da Académica numa final da Taça de Portugal. Até a final da Taça UEFA perdida em Alvalade eu ultrapassei. Mas este vexame que estou a passar (eu e todos) jamais irei esquecer ou perdoar.
O ridículo é tanto que o Sporting alega que, na final da Taça de Portugal, Marco Silva não usou o fato oficial do clube. Até isto serve para despedir uma pessoa...
Espero, sinceramente, que Marco Silva saiba distinguir as coisas. Que não julgue que isto é o Sporting. Porque não é! O Sporting, o verdadeiro, é enorme e não trata assim quem acabou de lhe dar um título. Espero que, daqui a uns anos, Marco Silva olhe para trás e sinta orgulho de ter treinado o Sporting. Bruno de Carvalho à parte. Porque os verdadeiros sportinguistas nunca o esquecerão.
Se o Sporting opta por Jesus, está no seu direito. Mas Marco Silva não merecia ser tratado assim. Despedir um treinador com justa causa (e logo depois de ter ganho uma Taça de Portugal!) é feio, muito feio. Caso Bruno de Carvalho não tenha reparado, nenhum sportinguista queria a saída de Marco Silva. Assim não se faz.
A ida de Jorge Jesus para o Sporting é a maior bomba no defeso desde 1993, quando Sousa Cintra aproveitou os problemas financeiros do Benfica e contratou Paulo Sousa e Pacheco. Esteve próximo de adquirir João Pinto, mas Jorge de Brito segurou-o. João Pinto acabou por ir para Alvalade, em 2000, numa transferência quase inevitável.
Esta jogada de Bruno de Carvalho deixou os adeptos do Benfica num estado de fúria e incredulidade que nunca vi. A maioria sempre temeu que JJ fosse para o FC Porto. Nunca ninguém temeu o Sporting. Bruno de Carvalho tem uma atitude que não se via em Alvalade desde João Rocha e Sousa Cintra. Uma mistura entre arrojo e irresponsabilidade. Para Bruno de Carvalho não há impossíveis. Veremos o que acontece no futuro.
Mas a ida de Jorge Jesus para o Sporting e consequente saída do Benfica levantam várias questões. Aqui ficam algumas que acho pertinentes.
A saída
A relação entre Vieira e Jesus estava longe de ser perfeita. E não era de agora. JJ gosta de ter o controlo de tudo, e sentiu que já não o tinha. A contratação de Mukhtar, em janeiro, e de Marçal, Ederson, Diego e Hassan, para a próxima época, não tiveram a sua autorização. JJ não gostou de ver o processo da renovação de Maxi Pereira a arrastar-se. Mais recentemente, não ficou contente quando soube do pré-acordo com Rui Vitória.
O treinador do V.Guimarães há muito sabia que seria o substituto de Jesus, ao ponto de ser indemnizado se Jesus ficasse. Vieira sempre pensou que JJ sairia para o estrangeiro, mas os convites que surgiram não lhe agradaram. Ao longo deste último mês, Jesus sabia do interesse do Sporting, e nunca o rejeitou. Informou-se sobre o plantel leonino e foi recolhendo informação. Mas a prioridade era o Benfica. Mas cedo Jesus percebeu que Vieira já não o desejava. As reuniões entre ambos não chegaram a qualquer acordo, e Jesus ficou ainda mais magoado quando o Benfica e Jorge Mendes, à pressa, lhe arranjaram um clube em França. Jesus recusou. Estava consumada a saída do Benfica.
Porquê o Sporting?
Acredito que a parte emocional foi importante. Jesus não quis sair de Lisboa devido ao debilitado estado de saúde do pai. Todos conhecem o passado ligado ao Sporting e, pelo que sei, as pessoas mais próximas do treinador encorajaram-no a ir para Alvalade. Mas não vamos ser ingénuos. O contrato milionário também ajudou.
O projeto do Sporting
Mais do que roubar o treinador ao rival, contratar JJ significa que o Sporting quer ganhar tudo. Mas pagar seis milhões de euros por ano é loucura. O dinheiro vem de investidores de Angola e Guiné Equatorial. Mas ninguém dá assim tanto dinheiro a fundo perdido. Quais são as contrapartidas?
Contratar JJ significa que o Sporting tem de aumentar o orçamento. Jesus não aceitaria os leões sem garantias de ter uma equipa competitiva para lutar por títulos. Acredito que nenhum dos principais jogadores sairá. Aposto que as contratações serão sonantes. Logo, não consigo perceber o que raio vai na cabeça de Bruno de Carvalho. Quando chegou ao Sporting, conseguiu a reestruturação financeira e poupou onde pôde. Impôs tectos salariais e um orçamento para o futebol a rondar os 25 milhões de euros, menos de metade dos rivais. Tem a UEFA à perna com o fair-play financeiro, e decide passar a gastar o que não tem? Veremos o que será o futuro do Sporting e o preço a pagar por esta operação. Com mais três anos de contrato, Marco Silva era perfeito para a estratégia atual do Sporting.
A queda da formação
A contratação de JJ significa a queda da formação. Só pode. Mais do que um projecto, a aposta do Sporting na formação era uma filosofia. Mas isso nunca deu campeonatos ao Sporting. Deu aos rivais…Na verdade, a formação do Sporting atravessa uma crise. Abaixo da equipa principal, só vejo quatro jogadores com capacidade de chegar à primeira equipa: Iuri Medeiros, Gelson Martins, Wallyson e Matheus Pereira. JJ é o treinador perfeito para espremer os jogadores. Estou curioso para ver o que conseguirá de William Carvalho, Carrillo ou João Mário. E isso é algo que Marco Silva ainda não tem. E não me parece que alguma vez venha a ter.
Acabou a jornada 22 e tenho uma certeza: o Benfica vai ser campeão. O jogo de Moreira de Cónegos foi o exemplo daquilo que tem sido a época encarnada. Uma exibição sofrível, erros de arbitragem e os três pontos. No Minho, estavam manietados pelo Moreirense e sofreram o golo de João Pedro. Na segunda parte, com o jogo complicado, surge o empate na sequência de um canto inexistente e depois um jogador é expulso por insultar o árbitro.
Na próxima jornada, recebem o Estoril, clube que jogará sem a habitual dupla de centrais. Yohan Tavares e Ruben Fernandes estavam em risco de exclusão e, claro está, viram amarelo. É mais uma. Esta época, o Benfica já acabou OITO jogos na Liga com mais um jogador em campo. E convém não esquecer alguns golos em fora de jogo, como o de Gaitán ao Gil Vicente. Pelo meio, Deyverson e Miguel Rosa foram impedidos de jogar na Luz…e nenhum tem ligações ao Benfica.
A falta de vergonha é enorme. A equipa do Benfica é normal, a julgar com épocas anteriores. Souberam aproveitar os erros de FC Porto e Sporting, mas a verdade é que, nos momentos de aperto, houve sempre uma mão salvadora.
O domínio do Benfica, esta época, faz lembrar o FC Porto dos anos 90, os anos de ouro da corrupção desportiva, dos quinhentinhos de José Guímaro à viagem dos irmãos Calheiros ao Brasil, paga por engano (disseram eles) pelos dragões. Naqueles anos, nada fugia ao FC Porto. As arbitragens eram subtis, mas não enganavam. Jogadores como João Pinto, André, Fernando Couto e Paulinho Santos podiam agredir quem quisessem que não iam expulsos. Qualquer jogo mais complicado acabava com um penalty nos últimos dez minutos e depois existiam as pequenas coisas. O Salgueiros de Mário Reis era temível contra Benfica e Sporting, mas perdia metade da equipa de forma inexplicável antes de jogar nas Antas. Jorge Silva levou tantos golos de Jardel que, um dia, viu-se a jogar pelo FC Porto emprestado pelo Salgueiros. E foi campeão! Em 93/94, o Sporting perdeu pontos fora com Famalicão e Gil Vicente, em estádios com relvados impraticáveis, cheios de lama. O FC Porto, por exemplo, jogou com o Famalicão no mesmo estádio, mas o relvado estava coberto de areia. Ganharam 5-0…
O Benfica tem sido um pouco disto. É natural. É mais complicado ser campeão com Eliseu, André Almeida e Jardel do que com Siqueira, Garay, Enzo Pérez e Matic. Jorge é Jesus, mas não faz assim tantos milagres. Junta-se a isto uma comunicação social parcial e clubista e é como se nada se passasse.
Esta semana, Bruno de Carvalho denunciou um pedido de reunião com Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, intermediada por Nélio Lucas, responsável da Doyen Sports. Alegadamente, Vieira queria propor uma aliança para dominarem o futebol portugues e dividirem titulos. Bruno de Carvalho diz que recusou. O presidente do Sporting fala de mais. E já ninguém o leva a sério. Mas ninguém investiga esta denúncia. E o jornal Record já provou que existem mensagens que deixam indícios no ar.
A julgar pelo que vejo todas as jornadas, Bruno de Carvalho pode estar a falar verdade. Não me admirava nada.
Pelas minhas contas, desde que está no Sporting, Bruno de Carvalho já cortou relações com: - A anterior Direção. - O FC Porto. - A Liga - A Doyen - Com Jorge Mendes - O Benfica - A Sagres Queixando-se do tratamento dado pela comunicação social ao Sporting, Bruno de Carvalho decidiu contratar uma agência de comunicação. Eu, se fosse diretor de comunicação do Sporting, tinha uma medida para começar: impedia que o presidente utilizasse as redes sociais para atacar tudo e todos. Duvido que alguém consiga.
Agora que já passaram alguns dias depois do derby, e conhecido o corte de relações institucionais entre Sporting e Benfica, apetece-me falar sobre isto. Eu estive em Alvalade no domingo e o que vi? Ódio. Vi ódio, senti ódio. E foi de parte a parte, aqui não há culpados e vítimas. É tudo farinha do mesmo saco.
Vi um adepto do Benfica ser escoltado pela polícia só porque foi a uma roulotte de comida onde estavam sportinguistas. E nem o facto do pai estar ao lado (com um cachecol do Sporting) o impediu de ser quase linchado. Vi a claque do Benfica arremessar cadeiras para a zona onde estavam os adeptos do Sporting, onde estavam crianças! Vi material pirotécnico, vi um verylight lançado pela claque do Benfica para essa mesma zona. É a velha história. Um iogurte não pode entrar, mas os petardos entram todos.
Um dia antes, vi uma tarja criminosa e assassina exibida pela claque do Benfica, a lembrar de forma orgulhosa que tinham morto um adepto do Sporting na final da Taça de Portugal, em 1996. Na bancada estava o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que nada fez. É inacreditável que a direção do Benfica não tenha condenado aquela faixa. O presidente encarnado passa sempre entre os pingos da chuva, enquanto Bruno de Carvalho é apelidado de fanático e índio. É muito fácil bater no presidente leonino.
Com a confusão instalada, o que se passou no domingo era inevitável. Em vez de cortarem relações, Sporting e Benfica deviam, de uma vez por todas, acabar com isto. Acabar com o poder das claques, fações de adeptos (algumas delas com ligações criminosas) que mandam nos clubes e que instigam tudo isto. Mas não me parece existir interesse de ambos. Em 1996, morreu uma pessoa num estádio a ver uma final da Taça de Portugal. Teve o azar de estar no lugar errado, à hora errada. O que aprendemos com isso? Nada. A continuar assim, vão morrer mais pessoas nos estádios. E vamos continuar a assobiar para o lado.
Para um treinador no fio da navalha, a orientar uma equipa de miúdos, fazer aquela cara de frete enquanto Dramé faz um golo não fica bem a Marco Silva. Bruno de Carvalho exultou, o jogo terminou com toda a equipa abraçada, mas Marco Silva nem um sorriso teve naquele momento. Foi cumprimentado por Augusto Inácio, respondeu a um cumprimento do roupeiro Paulinho, e dirigiu-se de seguida para o conforto do amigo Rui Vitória. O clima de paz podre com Bruno de Carvalho é por de mais evidente, mas talvez não ficasse mal ao treinador mostrar alguma alegria pelos golos, mesmo que tenham sido apontados por jogadores que raramente orienta. Era um bom gesto, sobretudo para os milhares de sportinguistas que se têm insurgido contra o provável despedimento do treinador. Para um técnico que esta em quinto lugar numa das ligas mais fracas de sempre, que foi incapaz de ganhar em casa a Moreirense, Belenenses e Paços de Ferreira, Marco Silva até tem vários fãs. Ficava-lhe bem outra atitude.
Para um treinador no fio da navalha, a orientar uma equipa de miúdos, fazer aquela cara de frete enquanto Dramé faz um golo não fica bem a Marco Silva. Bruno de Carvalho exultou, o jogo terminou com toda a equipa abraçada, mas Marco Silva nem um sorriso teve naquele momento. Foi cumprimentado por Augusto Inácio, respondeu a um cumprimento do roupeiro Paulinho, e dirigiu-se de seguida para o conforto do amigo Rui Vitória. O clima de paz podre com Bruno de Carvalho é por de mais evidente, mas talvez não ficasse mal ao treinador mostrar alguma alegria pelos golos, mesmo que tenham sido apontados por jogadores que raramente orienta. Era um bom gesto, sobretudo para os milhares de sportinguistas que se têm insurgido contra o provável despedimento do treinador. Para um técnico que esta em quinto lugar numa das ligas mais fracas de sempre, que foi incapaz de ganhar em casa a Moreirense, Belenenses e Paços de Ferreira, Marco Silva até tem vários fãs. Ficava-lhe bem outra atitude.
Esta sexta-feira deve ser anunciada a saída de Marco Silva do Sporting. A corda partiu de vez, e só uma mudança total de Bruno de Carvalho ou a falta de dinheiro podem aguentar o treinador no clube. O próprio técnico já não parece ter muita vontade de permanecer em Alvalade, sítio onde nunca sentiu grande apoio por parte da direção. Basta ver o que foi a política de contratações do Sporting. Evandro, por um lado, esteve com um pé no Sporting por ação de Marco Silva, mas Bruno de Carvalho e companhia recusaram pagar o que o jogador pedia, e Evandro seguiu para o FC Porto. A Alvalade chegaram jogadores supostamente mais baratos, mas já se sabe que o barato, por vezes, sai caro. Basta olhar para Slavchev, Ryan Gauld, Rabia, André Geraldes ou Sacko para perceber isto. Evandro ganha menos do que estes quatro juntos...A guerra fria entre Marco Silva e Bruno de Carvalho vem desde agosto, mas o treinador acabou por se ver envolvido num conflito com outra personalidade: Carlos Gonçalves, empresário de Marco Silva, e de Rojo e Montero, entre outros. O Sporting acredita que foi Carlos Gonçalves a convencer Rojo a não se treinar em Alcochete, numa altura em que o Manchester United demonstrou interesse no argentino. Antes disso, o presidente terá ordenado que Rojo jogasse no troféu Teresa Herrera. Marco Silva, por opção técnica, deixou o jogador de fora. Talvez tenha existido na Direção quem pensasse que o treinador satisfez um pedido do agente. Outro episódio poderá ser o da entrada de João de Deus para o lugar de Francisco Barão no comando técnico da equipa B. Van der Gaag era um dos nomes possíveis, e um treinador do agrado de Marco Silva, mas não rumou ao Sporting por ser representado por Carlos Gonçalves. Chegou João de Deus, um técnico por quem Marco Silva não nutre grande simpatia. A derrota em Guimarães precipitou o pior. Bruno de Carvalho usou o Facebook para criticar a equipa. Astuto, Marco Silva usou as críticas para agarrar o plantel. Hoje não há um único jogador que não apoie o treinador, algo impossível com o presidente. Pelo que conheço de Marco Silva, é treinador para ganhar títulos, mas precisa de tempo. Muito tempo. É o profissional perfeito para implementar uma filosofia de jogo e formatar um clube, assim como Klopp fez no Dortmund. Não é treinador para chegar, ver e vencer. Quem vê futebol e acompanhou o trabalho de Marco Silva no Estoril percebe isto. Talvez assim se explique tanto apoio a um treinador que está em quinto lugar na Liga. A confirmar-se a saída de Marco Silva, será um erro histórico, como foi o despedimento de Bobby Robson, ou a contratação de José Mourinho que nunca chegou a acontecer....
Em pouco menos de seis meses, Bruno de Carvalho conseguiu destruir tudo o que demorou quase dois anos a construir. Está a dar razão a quem o comparou a Vale e Azevedo. O clube vive um clima de guerra interna, desconhecida por muitos, mas só o inexplicável comunicado do presidente a revelou. Pelo meio, Bruno de Carvalho resolveu atacar a equipa de futebol e, sobretudo, o treinador. Em vez de dotar a equipa com bons jogadores (sobretudo centrais), o presidente leonino investiu muito dinheiro em jogadores sem qualidade para vestir aquela camisola (como Naby Sarr), sendo que a maioria nem qualidade tem para a equipa A. Onde andam Gauld, Slavchev ou Sacko, por exemplo? Na equipa B. Equipa B essa que já vai no terceiro treinador. Na formação as coisas estão caóticas. Foram contratados perto de 15 jogadores para os juniores, deitando à rua o trabalho de vários anos. Essa mesma equipa de juniores está a 16 pontos do Benfica no campeonato, e não há ali um único jogador com capacidade para chegar mais longe. Nos próximos dias será consumada a rescisão de Marco Silva. Despedir Marco Silva será um erro histórico, comparável ao que aconteceu com José Mourinho em 2000. O tempo acabará por me dar razão. Quanto a Bruno de Carvalho, resta-me encolher os outros e admitir: vocês tinham razão.
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