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Sou o pior faixa branca de sempre. E é isso que vai tornar a viagem épica. (Entretanto ganhei a faixa azul, o que torna isto ainda mais inacreditável!)
O que aconteceu, ontem, em Gelsenkirchen ultrapassa os clubismos. Aconteceu ao Sporting, podia ter acontecido ao Benfica, ao FC Porto ou a outra equipa portuguesa. Podia ter acontecido a um Ajax, um Olympiakos ou um Celtic. Nunca foi tão grave, mas casos destes é o que mais temos.
O que aconteceu, ontem, em Gelsenkirchen é a demonstração perfeita do que se tornou a Liga dos Campeões. Uma prova elitista, entre os clubes que têm dinheiro e os que não têm. Aos mais pequenos nada mais é permitido, a não ser ganhar umas coroas pela presença e tentar ter uma participação digna. Participação essa que passa pela qualificação para a Liga Europa e tentar não ser goleado pelos tubarões.
O que aconteceu, ontem, em Gelsenkirchen faz as pessoas deixarem de acreditar no espetáculo. Tantos erros de uma equipa de arbitragem russa a favor de uma equipa patrocinada...por uma empresa russa (por sinal um dos principais patrocinadores da prova) abre caminho à especulação.
A culpa é da UEFA, que criou este modelo de negócio, e que não vai abdicar dele. No campo, o Sporting provou ser muito melhor do que o Schalke. Esteve a um passo de vencer pela primeira vez na Alemanha. Mas eles não deixam. Por mim, prefiro que o Sporting fique em terceiro e vá à Liga Europa do que se apurar para os oitavos de final. Se o Sporting ousar chegar à segunda fase, nem quero acreditar no que pode acontecer.
O empate do Sporting, esta noite, na Eslovénia, com o Maribor, e o início de época aos soluços começam na pré-época. E Marco Silva é o menos culpado. Os leões foram dos clubes que mais jogadores contrataram, mas não se reforçaram. Este Sporting ainda não é mais forte do que o da época passada. Talvez ainda o possa ser, o tempo o dirá.
Na época passada, a defesa do Sporting chegava para consumo doméstico, mas era fraquinha. Estava à vista de todos. Além disso, a equipa jogava de forma diferente, expunha-se menos aos ataques adversários, era mais compacta em campo. Para competir na Liga dos Campeões, o Sporting estava obrigado a gastar algum dinheiro no setor mais recuado. A saídas de Rojo para o Manchester United e de Dier para o Tottenham só aumentaram a urgência.
Chegaram três centrais, mas nenhum tem qualidade para ali estar. Ainda. Tenho esperança em Paulo Oliveira. Rabia chegou e lesionou-se. Sarr tem potencial, mas ainda não chega. Alguém lucrou com estas transferências (quem anda nisto sabe bem quem pôs ao bolso), mas a equipa ficou mais fraca. Porquê? Porque o outro central é Maurício, um brasileiro que chegou da segunda divisão daquele país. Tem alma, é guerreiro, mas é fraco. Tem erros de posicionamento dignos de um iniciado.
Tirando o jogo com o Arouca, o Sporting sofreu golos em todos os jogos. E todos foram demasiado consentidos. Carrillo errou em Coimbra e Rafael Lopes marcou; Salvio e Maxi Pereira trocaram a bola como quiseram e Gaitán rematou sem oposição na Luz; Deyverson cabeceou sem qualquer oposição no Sporting-Belenenses. Os números só não são piores porque Rui Patrício tem sido fundamental.
Posto isto, uma equipa que joga a Champions com Sarr e Maurício na defesa não pode ser competitiva. E Maribor demonstrou-o. O Sporting podia ter ganho por três ou quatro, mas nunca esteve confortável em campo. Com um meio-campo pouco agressivo, sofrer um golo com a falta de qualidade que existe na defesa é uma questão de tempo. Sofrê-lo aos 90+2 minutos, num lance digno de um sketch de Benny Hill só aumentou o dramatismo. A culpa é de Bruno de Carvalho e de Augusto Inácio, nunca de Marco Silva. Junte-se a isto tudo a ausência de um médio ofensivo. Podia ter sido Evandro, mas o FC Porto esforçou-se mais.
Quanto ao resto, o Sporting conseguiu o reforço do ano, Nani, mas o treinador do Sporting não consegue aproveitá-lo. O jogo do Sporting parece Nani e mais dez e assim é. O internacional português gosta de ter a bola, precisa de jogar com liberdade. Não me parece que colocá-lo numa ala seja a solução. Damos sempre por Nani na zona central, o que deixa a equipa coxa. A solução, a meu ver, passa por colocar Nani ao meio e lançar Mané ou Capel nas alas. A equipa ficava mais equilibrada, com maior profundidade e largura a atacar.
Slimani está a ser outro problema. O avançado argelino é um finalizador. Bom a aproveitar o espaço, fraco a criá-lo. Raramente define o espaço para atacar a bola. Umas vezes vai ao primeiro poste, outras ao segundo. Em Maribor, contra centrais fortes no jogo aéreo, foi presa fácil. Talvez Montero fosse melhor solução.
Posto isto, os cinco primeiros jogos demonstraram que este Sporting está mais fraco do que o Benfica e muito mais fraco do que o FC Porto. A classificação assim o diz. Dia 26 há jogo com os dragões e os leões jogam já aí a temporada. Uma derrota (ou mesmo um empate) deixam a equipa de Marco Silva fora do título no início de outubro.
Na Champions, o jogo mais importante era o de Maribor. Com uma vitória, o Sporting ficava já com mais três pontos do que os eslovenos e ainda tinha de os receber em Alvalade. A Liga Europa estava garantida e os leões podiam chegar aos dois jogos com o Schalke em condições de lutar pelo apuramento para os oitavos de final. Com esta igualdade, é preciso vencer o Chelsea. Ainda por cima os ingleses empataram hoje com os alemães.
Isto não está nada fácil para Marco Silva.
Está tudo doido com a reação dos adeptos do Benfica no final da partida com o Zenit. Foi bonito, sim senhor, mas serviu para o Benfica mascarar os problemas que possui. O campeão nacional perdeu em casa com uma excelente equipa, mas de segunda linha europeia. Nesse jogo nem meia casa estava, o que devia preocupar ainda mais a SAD encarnada. E o Benfica perdeu com naturalidade, caiu com os próprios erros, falhas cometidas por jogadores sem qualidade para jogar numa Liga dos Campeões.
Habilmente, os assessores de Luís Filipe Vieira colocaram o presidente do Benfica a agradecer a manifestação de apoio. E logo a comunicação social, sempre amestrada, viraram o foco do jogo. De uma derrota óbvia, de uma equipa sem andamento para a Champions, a uma ode ao benfiquismo. Um folclore enorme. Como se já não tivesse acontecido em Portugal. Lembro-me de Alvalade gritar pelo Sporting num jogo com o Belenenses, a poucos minutos do FC Porto se sagrar campeão, por exemplo.
Amanhã, em vez dos jogos de Sporting e FC Porto na Liga dos Campeões, os jornais vão falar da maior vitória moral de sempre do futebol português.
Veremos se existirão mais manifestações destas quando o Benfica for eliminado da prova. Depois do que vi ontem, é uma questão de tempo.
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