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A faixa azul

por umavidasemcouves, em 10.03.16

Perdoem-me o silêncio, mas os últimos dias têm sido intensos. O efeito surpresa foi-se todo, mas foi emocionante. Mal entrei na academia, estava a faixa e o diploma na receção. Já sabia que a ia receber. O treino correu mal, tinha feito análises horas antes e os rolamentos deixaram-me mesmo tonto

 

Mal terminou o treino, fui chamado pelo professor. O momento foi especial, pois tive 20 pessoas a aplaudirem-me. Quase chorei. Elogiaram a minha postura, a minha assiduidade, e a forma como, ao longo de um ano, não desisti. Treino após treino, a superar as dores e as limitações. Ter a faixa azul na minha cintura foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Um orgulho enorme. A exigência aumentou. O caminho da faixa azul para a roxa será longo e mesmo muito difícil. A maioria desiste. Eu não sou de desistir. Nem que demore dez anos.

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Os faixas roxas são os piores

por umavidasemcouves, em 01.03.16

Raspagens, idas para as costas, lutas e mais lutas. Foi um belo dia para levar na boca dos faixas roxas. São os piores. O branco tem medo, o azul respeito. O castanho quer divertir-se, o preto ensinar. O faixa roxa só quer dar porrada. Usa os faixas brancas para fazer o que sabe melhor, sempre com a certeza que não terá grande resistência. Fica com o ego nos píncaros para se atirar aos mais graduados. No meio disto tudo, abriu-me o lábio (não teve culpa) e sujei o químono. Sexta há cerimónia. Vamos ver o que me calha.

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Tempo e paciência

por umavidasemcouves, em 26.02.16

Imaginem um gajo que é fraquinho no jiu-jitsu. Vai treinar e, mal entra na academia, já se quer pôr a milhas. Equipa-se, entra no tatame...e acaba numa aula com o mestre (faixa preta), um lutador profissional de MMA, e um militar. E não é que foi o que eu estava a precisar?

 

Dei tudo o que tinha e não tinha. De falta de esforço nunca me poderão acusar. Insistimos em triângulos, e até não me safo mal naquela finalização. Fujo o quadril com facilidade, fecho melhor o triângulo e tenho força nas pernas. É o estrangulamento que melhor conheço. Já levei tantos, que conheço os ataques e contra-ataques de cor.

 

De seguida fizemos guarda, num dos drills mais intensos, exigentes e cansativos que há. Sobretudo para quem está em baixo. Fiquei exausto, a ver estrelas, dei o que pude, e consegui passar guarda duas vezes a um atleta mais forte do que eu. E só na técnica.

 

Nos rolas foi até cair. Sem ligar a derrotas, a bater quando tinha de bater, a aplicar aquilo que sei, por melhor que fosse o adversário. O melhor do jiu-jitsu são as relações que se criam. O sucesso individual depende do sucesso coletivo. Sem os incentivos dos meus colegas e professor, já tinha desistido. Posso não gostar de ouvir um «tens de trabalhar mais», porque não há ali ninguém que trabalhe mais do que eu. Mas gosto que reconheçam o meu esforço, e que me digam que fui a pessoa que mais evoluiu num ano.

 

Na próxima semana há cerimónia de graduações. Infelizmente não poderei ir. Ficarei feliz por todos os meus parceiros de treino. Gostava de receber, pelo menos, mais um grau. Pelo esforço. Não justifico muito mais. Ainda falta muito para a faixa azul. Com tempo e paciência chegarei lá.

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Sou uma merda no jiu-jitsu

por umavidasemcouves, em 24.02.16

Há mais de um ano que entrei numa das viagens mais loucas da minha vida. Eu só queria fazer exercício. Meti-me no jiu-jitsu. Entrar numa arte marcial aos 31 anos, com 104 quilos, sem nenhuma experiência na área, foi uma loucura. Ainda hoje não sei o que me deu para ter aceite. Meia hora antes da primeira aula, estive para me ir embora. Não fui. Ainda hoje estou para saber se tomei a opção correta.

 

O jiu-jitsu tem sido um carrossel e físico. Os lutadores profissionais falam de uma viagem. Eu falo de sofrimento. Os primeiros meses foram horríveis. Lesões frequentes, entorses, dores nas costelas, e o início de um síndrome vertiginoso, com tonturas constantes, consequência das cambalhotas e dos enrolamentos. Ainda hoje fico zonzo quando faço um enrolamento para trás. Nunca desisti, sempre pensei que esse sofrimento era necessário. Que cada estrangulamento que sofria me iria fazer mais forte. Que só precisava de um ano de base para aprender a sério. Talvez me tenha enganado.

 

Tive momentos bons. Foi bom quando emagreci. Foi bom quando comprei químonos novos e me senti confiante. Foi bom quando finalizei pela primeira vez numa chave de braço. Mas passou. De dezembro para cá que os treinos estão a correr mal. Muito mal. Recuperei o peso que tinha. Para um tipo com mais de cem quilos, fazer jiu-jitsu é muito difícil. O que os outros fazem com facilidade, a mim custa-me. É raro o treino que não me deixa com dores. Já me podia ter magoado a sério e tenho medo disso. Não há ninguém que se esforce mais do que eu. Mas isso está mal. Não me devia esforçar tanto. A coisa devia fluir.

 

Os últimos treinos têm sido um inferno. Fisicamente estou péssimo, psicologicamente ainda estou pior. Não tenho gás, sou uma desgraça a nível técnico e não tenho garra. Entro em todas as lutas já derrotado. Mal sei passar uma guarda, sou péssimo por baixo e consigo ser finalizado quatro a cinco vezes em apenas seis minutos. Hoje foi um suplício. Hoje não fui só finalizado. Hoje levei porrada a sério. Para que é me sujeito a isto? Tenho dois cursos superiores, estou à beira dos 33 anos, e continuo a sentir-me como o miúdo gordo que saía a chorar das aulas de ginástica porque tinha medo de fazer cambalhotas. Fico ainda pior quando vejo a impotência do meu mestre. Todos os conselhos que me dá não servem. Raramente faço alguma coisa de jeito.

 

Não quero desistir. Não vou desistir. Seria incapaz de me olhar ao espelho. Mas o jiu-jitsu deixou de me dar prazer. Tornou-se um suplício. A minha namorada é a pessoa que mais incentiva, e sei que vai detestar ler isto. Mas a verdade é esta: sou uma merda no jiu-jitsu. Tal como fui no ténis. Investi tanto dinheiro em aulas e equipamento, e não consegui nada de jeito. É vergonha assumir que não temos jeito?

 

Os meus colegas já perceberam. Puxam por mim, mas não adianta. Neste momento, se não fosse pelo mestre, saía de lá. Mas porra, se os outros são capazes, porque é que eu não sou?

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E ontem quase chorei

por umavidasemcouves, em 08.03.15

Sem nunca julgar, a semana que agora termina acabou por ser inesquecível. Começou com o meu 32.º aniversário, num dia simples, mas perfeito. Perfeito porque foi na melhor companhia, ao lado da minha família, de alguns amigos e, sobretudo, da minha namorada. Alguém que passou uma noite a fazer-me um bolo só para que eu me sentisse especial. Pôs um dia de folga para estar comigo, jantou com a família que agora também é dela, abraçou as sobrinhas que agora também são dela.

 

Pelo meio, tive tempo para ir à aula de jiu-jitsu, algo inacreditável há uns meses. Desde dezembro que a palavra que mais oiço é “Porquê”. “Tu, a fazer jiu-jitsu? Porquê?”, “Isso não tem nada a ver contigo” ou “Porque andas a fazer isso? Vais-te magoar”. Porquê? Nem eu sei. A viver num local novo, sem conhecer ninguém e a adaptar-me a uma nova vida, pensei que o desporto me ia fazer bem. Não queria ginásios. E aquele panfleto da Academia que me chegou à caixa de correio teve tudo para ser salvador.

 

Quando lá entrei, eu queria fazer ginástica de manutenção, desconhecendo que era para idosos. Na vida há acasos que nos fazem pensar e, naquele, calhou estar o mestre na receção. “Queres fazer desporto? Aqui, para ti, só tenho jiu-jitsu”, disse-me ele. Eu, a fazer jiu-jitsu? Nem sabia o que isso era! N\ao fiquei convencido, disse-lhe que aquilo não era para mim. E, de seguida, olhou para mim e disse-me algo que nunca esquecerei: “O JIU-JITSU É PARA TODOS”. Convidou-me para experimentar, uma aula sem compromissos. Andei a pensar naquilo durante quatro dias e só resolvi experimentar quando faltava uma hora para começar. E não faltaram hesitações. Quando me aproximei da porta da Academia, quis tanto ir embora. Ninguém ia dar por nada. Mas tinha dito à minha namorada que ia e não queria que ela pensasse que era um desistente.

 

Fui. O que mais me impressionou foi a atitude do mestre. No espaço de hora e meia, ensinou-me o que era o jiu-jitsu. A perspetiva histórica. Falou daquilo com tanta paixão que me arrebatou. Decidi dar uma oportunidade. E fui à aula seguinte. Dali inscrevi-me e recebi a minha faixa branca. Não vos vou mentir. Aquilo não é fácil. Para um tipo pesado e volumoso como eu, aquilo não é nada fácil. Já acabei treinos com dores, todo amassado. Já me deitei quase sem me conseguir mexer. Já fiquei tonto com aquilo. Entorses, dores nas costelas, etc. Dizem-me que são quase dores de crescimento. Mas, mal saio do treino, só consigo pensar no próximo. Agora que estou a escrever estas linhas, sinto uma vontade do caraças em treinar.

 

Passo a vida a perder naquilo. Já desisti dezenas de vezes. Vou perder muitos mais combates na minha vida. Não é vergonha nenhuma. Só assim se aprende. O jiu-jitsu ensinou-me a ser humilde. A dar tudo por tudo. A não me vergar. A aceitar a derrota, mas sem me render. A retirar coisas boas de tudo. A evoluir. A ser boa pessoa. Essa será a grande vitória. Comigo treinam várias pessoas. Médicos, enfermeiros, eletricistas, etc. Aceitaram-me logo, ajudam-me a melhorar, mesmo um gajo descoordenado como eu. Respeito-os, dou o litro a cada treino. Posso não ser o atleta mais dotado, mas ninguém se esforça mais ou tem mais atitude do que eu.

 

Ontem assisti à minha primeira cerimónia de graduações. Fui por respeito ao mestre, às academias e aos meus colegas. O sucesso deles também é um pouco meu. A minha evolução também é o sucesso deles. Vi pessoas a chorar quando receberam a faixa nova. Até eu fiquei emocionado. Mas não contava ser chamado. Ao fim de três meses de treino, recebi o primeiro grau de faixa branca. E quem mo deu foi o mestre mais antigo de Portugal. “Estou a gostar de te ver lutar. Parabéns pelo esforço”, disse-me ele. Nem quero saber se os outros são melhores. Mas ontem quase chorei quando vi aquele grau.

 

Sinto um orgulho enorme em mim, mas tenho uma vontade e um fogo enorme de treinar mais. Quero vencer as minhas limitações, quero mais graus, quero outra faixa, quero tudo. Aos poucos, vou consegui-lo. Sem pressas. Se os outros conseguem, por que é que eu não o conseguirei também?

 

Há uns meses, jamais pensaria que, hoje, vivia com a minha futura esposa. Que passava roupa a ferro e limpava a cozinha. Que ia às compras e cozinhava. Jamais pensaria que andaria no jiu-jitsu! A vida dá muitas voltas e resta-me sorrir e aproveitar a viagem.

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Não sou o Brock Lesnar. É pena.

por umavidasemcouves, em 16.12.14

Às vezes, na minha vida, acontecem coisas estranhas. Certo dia cansei-me de ver ténis na televisão e resolvi ir jogá-lo. Entrei para uma escola de ténis com 24 anos, e aprendi tudo do início. As pegas, os passos, como bater uma direita, uma esquerda, smash, voléi, serviço, tudo. Hoje posso dizer que sei jogar ténis. Mas também tenho de admitir que jogava mal. E o meu peso não ajudava em nada. Raramente vencia, era o rei dos erros não forçados. Perdi com miúdos de 12/13 anos, que festejavam cada ponto como se fossem o Nadal. O meu professor tinha pouca esperança em mim. Só queria o meu dinheiro, penso eu. Punha-me a vencer todos os jogos por 30-0 antes deles começarem. E eu raramente os vencia. Tinha o equipamento todo, duas belas raquetas, mas pouca vontade. Ainda andei nesta vida durante dois anos, penso eu, até desistir de vez. Não pego numa raqueta há anos.

E fui-me desligando do desporto. Há umas semanas, depois de mudar de casa, resolvi fazer desporto. Estava a fazer-me mal. Andei a ver ginásios, mas larguei essa opção antes mesmo de a começar. Ir ao ginásio aborrece-me. Horas e horas nos aparelhos de cardio, equipamentos suados, pessoas mal educadas, e aqueles homens que demoram horas a fazer apenas um exercício e que estão mais tempo no telemóvel do que a treinar. Precisava de algo diferente. E a resposta estava na minha caixa de correio. Uma academia de artes marciais. Resolvi ir à academia, mas a minha ideia era a ginástica de manutenção. Logo me disseram que era para a terceira idade. Compatível com os meus horários apenas...jiu-jitsu. Eu no jiu-jitsu? Nem pensar. Mas aquilo ficou ali a matutar. O mestre foi impecável comigo e convidou-me para ir experimentar.

Faltava meia hora para começar essa aula e eu ainda tinha dúvidas. Resolvi ir. O que eu sei de jiu-jitsu? Nada. De regras? Zero. A primeira aula foi básica e de conhecimento teórico. Só nesse dia foram dois para o hospital, com lesões nas articulações. Voltei na aula seguinte e até me diverti. Ali não há telefones a tocar, conseguimos esquecer e estarmos apenas focados na luta. Saímos da academia com a mania que somos o Brock Lesnar, com a mania que podemos andar à porrada e partir o braço a toda a gente. Treino jiu-jitsu há três semanas. Adorei as duas primeiras, senti-me mal na terceira. Agora saio da academia a pensar que raio ando ali a fazer. Nunca tive noções de judo. Não sou flexível, sou descoordenado e a minha condição física é fraca. No aquecimento, demoro o dobro do tempo a fazer o que os outros fazem. De seguida aprendi alguns exercícios, e acabei a lutar. Primeiro com um faixa preta professor, outra vez com um faixa azul. O professor parecia obcecado em estrangular-me. Em menos de nada acabava nos braços dele e a ter de parar. "Tens de melhorar a tua postura", dizia ele. Como melhoro a postura se me estás a estrangular?! O faixa azul queria partir-me o braço. Andou a luta toda a procurar "arm locks". A mim restava-me desistir. Acho que, ao todo, devo ter desistido umas dez vezes. Um dos mais experientes disse-me. "Levar porrada é normal, faz parte". Talvez. Gostava de ser o Brock Lesnar. Parece que não sou.

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