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Sou o pior faixa branca de sempre. E é isso que vai tornar a viagem épica. (Entretanto ganhei a faixa azul, o que torna isto ainda mais inacreditável!)
Demorei mais de 25 anos para aceitar que sou gordo. Hoje, aos 31, tenho dias em que ainda não aceito. Acho-me magro, em forma, por mais que chegue a arfar ao meu local de trabalho, depois de subir uma rua bem ingreme. Quando me olho ao espelho, ponho-me em várias perspetivas e em algumas até me achavam com um caparro considerável. Puro engano.
Esta semana, decidi pesar-me. Eu já sabia que não ia acontecer coisa boa. E usei a balança do ginásio, a única em que confio. E não foi bonito. 104, 5 quilos, 30 por cento de massa gorda. Acho que nunca fui tão gordo na minha vida, nem quando pesava 100 quilos com 15 anos. Recordo-me quando, aos 14 anos, fui ao médico e me pesei. Acho que já não o fazia há uns anos. Quando a balança marcou 90 quilos, fiquei em choque. Mas quando o meu peso ultrapassou os três dígitos, fiquei para morrer. Não me sentia como hoje desde aquele dia. Até respirar me custa, sem me sentir cansado. A minha cara nunca mais acaba.
Agora decidi fechar a boca. Não como doces há quatro dias, mesmo com a casa cheia deles. Acreditem que é uma grande vitória. Agora é ver-me a correr a sério no ginásio, depois de um ano inteiro sem sair da minha zona de conforto. Ao longo destes 365 dias, andei pelos 104, desci para 102, cheguei a pesar 101, mas depressa recuperei o peso atual.
Ser gordo não é fácil. Desde miúdo que recuso vestir o XXL. É terrível ir comprar umas calças e ter de experimentar 12 pares, em três lojas diferentes, para comprar umas. Em duas das lojas mais conhecidas, como a Zara e a Pull and Bear, o tamanho maior não me passava das coxas. Quando vou comprar roupa, nunca experimento o XXL. Prefiro um XL mais apertado e dizer a mim próprio que vou emagrecer.
A minha infância foi passada sozinho no quarto, o único sítio em que não gozavam comigo. Com as mulheres era pior. Não me chamavam gordo, como os rapazes, mas a maioria sentia asco de mim. A única coisa em que confortava eram os bolos. E mal sabia eu do mal que me faziam. Secretamente, guardava o sonho de ser magro, de vestir um tamanho normal, de ninguém gozar comigo e de ter todas as miúdas a olhar para mim. Até o consegui durante uns anos, depois de uma dieta drástica que levou à perda de 30 quilos e do único juízo que tinha.
Aos poucos, voltei aos três dígitos na balança e não há volta a dar. Antes que deixem de haver calças para mim e que o meu coração ceda, estou obrigado a emagrecer. Será assim até ao resto dos meus dias. E esta vai ser a minha luta da minha vida.
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